quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Survival Horror Parte 5/6 - Silent Hill

Esse texto ficou longo, mas nada inadequado. A série é longa, arquitetada com classe, e é necessária - correção, imperativa - uma ampla descrição.

Um jogo memorável sob todos os aspectos. Eu já era fã de Survival Horrors, graças a Resident Evil, quando a Konami, aclamada softhouse criadora de incontáveis títulos de alta qualidade, como Castlevania, Metal Gear, Dance Dance Revolution e Suikoden, me lança no mercado um título com o slogan "A visão da Konami de Survival Horror". Eu o comprei com a excitação de alguém que fechou um grande negócio, e tive todas as minhas expectativas mais do que satisfeitas.
A franquia Silent Hill é uma obra-prima. Cada um dos jogos da série traz inovações, gameplay magnífico, desafio, tensão, emoção, e os melhores enredos já vistos no gênero. Quem nunca testemunhou a visão da Konami de Survival Horror, nunca realmente jogou Survival Horror. Resident Evil não basta; é obrigatório jogar Silent Hill!
Normalmente eu começo pelo enredo, mas hoje deixá-lo-ei por último. Vamos poupar o melhor para o final. Comecemos pelo som.
O som do jogo é um elemento-chave para envolvê-lo no clima macabro e sobrenatural do jogo. Composta por Akira Yamaoka, criador do som de jogos como Kensei: Sacred Fist e Gradius, a trilha sonora do jogo é magnífica. Melancólica, intensa, obscura, e assustadora, às vezes, certamente é um aspecto que contribuiu para tirar o sono de muitos jogadores.
Os gráficos são sempre muito bons. Em 1999, data de lançamento do 1º jogo, a Konami colocou em Silent Hill gráficos que deixavam a maioria dos outros jogos de PS1 no chinelo. No PS2, eles deixaram a desejar perto de títulos magistrais como Resident Evil 4 e God of War, mas sempre são dignos de nota. Escuros e assustadores, com cenários ricamente detalhados e monstros de criatividade ímpar, jamais igualados por qualquer filme ou jogo, antes ou depois, trazem arrepios na espinha até dos jogadores mais destemidos. A escuridão e a neblina impedem que o jogador veja qualquer coisa claramente além de um raio de três metros, e os ângulos de câmera, dignos de fazer Hitchcock arregalar os olhos, contribuem com o clima de tensão, de desconhecido e de surpreendente.
O gameplay traz poucas inovações, mas é bom. Muito semelhante ao Resident Evil, como o menu e a jogabilidade. A principal diferença em Silent Hill é a valorização das armas brancas. A maioria dos Survival Horrors contam com as pernas ou a pólvora exclusivamente. Silent Hill (principalmente a partir do 4) sempre deu um poder significativo às armas brancas, com força notável, ampla variedade de armas e, em Silent Hill Origins e Homecoming, o jogador pode até enfrentar os monstros usando os próprios punhos. No Origins, por sinal, é divertidíssimo encarar os monstros, pois você tem armas de diferentes forças, armas que você só usa uma vez (tipo TV e garrafões de vidro), e nos mais fracos é uma delícia descer o sarrafo com as mãos nuas! Mas o ponto mais notável do jogo são os puzzles. FOR FUCK'S SAKE, o cara que bolou esses puzzles compensou a falta de mãe com excesso de inteligência e criatividade. Silent Hill 1 é um dos mais simples no quesito, e ainda assim já apresenta alguns puzzles bem difíceis e criativos. O SH3 tem puzzles que eu levei DIAS pra resolver na dificuldade hard! Um jogo que estimula muito o cérebro, a inteligência e a resolução de problemas, um divisor de águas para os Survival Horrors!
Silent Hill... uma cidade cuja localização o jogo não deixa muito explícita, é tenebrosa e cercada de mistérios. Pelos jogos, Silent Hill apresenta três formatos possíveis: uma cidade comum e pacata; uma cidade fantasma, dominada pela névoa, silêncio e criaturas estranhas; e uma cidade completamente arruinada, macabra, assolada por visões perturbadoras e carnificina.
Harry Mason era um homem comum, sem nenhum dom, nenhum poder, nada de notável em sua vida, a não ser um breve fato: sua filha, Cheryl, não era sua filha biológica. Ele a adotou, quando encontrou-na abandonada em um cemitério em Silent Hill. Sete anos depois desse fato, em 1986, ele se vê compelido a levar Cheryl à sua suposta cidade natal, com a qual ela sucetivamente tem pesadelos. Chegando à cidade, porém, Harry bate o carro na estrada ao desviar de um vulto que a atravessava. Ao recobrar a consciência, descobre que Cheryl desapareceu. Só lhe resta agora adentrar a nebulosa cidade atrás de sua filha. Mas mal sabe ele os mistérios que a cidade lhe reserva. Logo Harry se vê cercado por criaturas bizarras, cultos macabros, magia negra e terríveis segredos. Não tarda também a descobrir que o bebê que ele encontrou nessa cidade não era uma criança qualquer. E Harry acaba por se tornar responsável pelas vidas de muitos, o genitor e carrasco de um Deus destruidor e cruel; isso, se ele for poderoso o bastante.
Silent Hill é um divisor de águas. Bem como Resident Evil, também podemos dividir Survival Horrors entre antes e depois de Silent Hill. O jogo pode ter derivado bastante de Resident Evil, mas os Resident Evils posteriores ao seu lançamento, bem como diversos outros títulos, tiveram muita infuência positiva de Silent Hill.
Em Silent Hill 2, o jovem James Sunderland recebe uma carta de sua esposa, pedindo que eles se reencontrassem em seu "lugar especial", Silent Hill. O problema é que sua mulher havia falecido de uma doença três anos antes. Buscando compreender esse mistério, ele vai a Silent Hill, onde se depara com a mesma cidade deserta e misteriosa que Harry Mason desbravara quase duas décadas antes. Ele acha que está em maus lençóis, mas não faz idéia do que está por vir. Não faz idéia da tristeza e horror que cerca os personagens com quem passa a conviver, nem da maldade e pânico que reside nos inimigos que encontra pelo caminho e, principalmente, em si mesmo.
Silent Hill 2 me marcou profundamente. Eu jogava com meus amigos, todos juntos tentando fechar o jogo. Todos juntos matutando os puzzles no level hard, e entrando em pânico juntos quando o Pyramid Head aparecia. Mas o marcante mesmo é a trama do jogo. Que história sensacional, que trama magnífica! Um enredo arquitetado com maestria, provavelmente a história mais triste, mais trágica que já vi num jogo. Pqp, como esse jogo é triste! Ao contrário dos outros da série, com finais bons e ruins, esse jogo tem cinco finais, principalmente: o extremamente trágico e horrível, o trágico e horrível, o macabro e melancólico, o bem triste, e o zuado, que você faz de piada depois de fechar uma vez. O jogo NÃO TEM final bom! Se você for o melhor possível, fizer tudo direitinho, você, na melhor das hipóteses, vê um final triste, mas nem se importa, pois é bem provável que quando acabe o jogo, você ache que o James mereça. Falei tanta coisa sem dar spoilers... acho que aticei muita gente. xD
Silent Hill 3 se passa, como o 2, no tempo atual. Heather Mason, filha de Harry Mason, é uma garota da cidade, meio moleque, que repentinamente se vê assombrada por horrores semelhantes ao que seu pai enfrentou em busca dela, quando ainda era Cheryl Mason. Heather ainda está por descobrir, mas nós, fãs da série, sabemos o que seu pai enfrentou, sabemos quem ela é, e fazemos idéia do tipo de destino que espreita sua vida. Como outros antes dela, as forças negras de Silent Hill a atraem uma vez mais na tentativa de trazer à Terra o seu Deus das Trevas.
Esse jogo já é o oposto do 2. Apesar das tragédias e terrores, o objetivo de Heather é realmente triunfar sobre as forças do Mal. Ele tem sim um final ruim, mas o objetivo é o bom. É tido como o mais fraquinho da série, mas ainda é um jogo muito bom, que compensa ser jogado.
Silent Hill 4 tem como protagonista Henry Townshend, um homem comum, vivendo uma vida comum, até que um belo dia acorda e descobre que está trancado em casa, pelo lado de dentro, com sua porta repleta de cadeados e correntes. Poucos dias depois, um buraco surge na parede de seu banheiro. Sem outra alternativa, Henry decide explorar os mistérios desse mundo paralelo onde foi colocado, tendo que lidar com personagens também perdidos como ele, ou completamente obtusos ao seu problema, como sua vizinha Eileen Galvin, e o supostamente morto serial killer Walter Sullivan.
Joguei muito pouco esse jogo, sendo o único da série que não terminei. O pouco que joguei, porém, gostei bastante, apesar das pesadas críticas que o jogo recebeu por resguardar poucas conexões com os outros jogos da série.
Silent Hill: Origins se passa sete anos antes do primeiro Silent Hill, em 1979. O caminhoneiro Travis Grady estava transportando sua carga por uma região próxima de Silent Hill quando, coincidentemente ou não, como Harry Mason, ele quase atropela uma menina que atravessa a estrada na sua frente. Procurando-a, por receio de estar ferida, ele se depara com uma casa em chamas, de onde resgata uma menina, desmaiando em seguida. Em busca de informações sobre a menina que resgatou, Travis vai ao hospital, estranhamente deserto. Lá conhece o doutor Michael Kauffman, velho conhecido dos fãs da série, que nega ter recebido alguma paciente com queimaduras. Ao se deparar com um grande espelho, vê refletido nele não a sala onde está, mas uma versão horrível e deturpada dela. A garota que ele resgatou aparece no reflexo e o convida a tocar o espelho. Ele o faz, e adentra a versão outworld do hospital, dando real início agora às suas desventuras por Silent Hill.
O jogo é muito curto, e a história, mesmo muito boa (melhor que a do 3 e 4), não é tão boa quanto do 1 e 2. Mas ele se destaca dos demais pelo gameplay. O controle é muito bom, o módulo de combate, com várias armas com durabilidade limitada e possibilidade de socar os oponentes e esquivar-se de seus golpes torna esse o jogo com maior ação da série. O esquema de transitar entre o mundo "comum" e o outworld, o mundo das trevas, através dos espelhos também gerou uma fórmula totalmente nova para o jogo, com as coisas que você faz em cada mundo alterando a situação no mundo oposto. Melhor gameplay de toda a série, sem dúvida.
Silent Hill: Homecoming foi a última edição da série. Sendo de PS3, lógico que não joguei, mas pelo que li e vi a respeito, parece ser um jogo muito bom, padrão Silent Hill de qualidade.

Depois dessa descrição tão aprofundada, acho que resta-me muito pouco a dizer, ainda. Silent Hill: uma obra-prima.