domingo, 24 de agosto de 2008

Onde eu vim Pará - pt. 3

Perdõem a falta de atualizações mas, como vocês podem ver pelo título desde editorial, eu escrevo esses textos em meus momentos de tédio, e estes andam cada vez mais raros. Tou que nem siri na lata, aqui. Essa desculpa é igualmente válida para me desculpar por não comparecer aos seus blogs, nem ler os textos que me foram enviados. Sinto muito, muito mesmo. Creio que logo voltarei a alguma normalidade.

Eu ia fazer um texto falando coisas boas que andam acontecendo por aqui, mas vocês merecem um texto engraçado, do tipo que eu escrevo melhor quando tou de péssimo humor (como hoje) e saio quebrando a banca xD
Podemos começar com meu assunto favorito: música paraense.

Então, eu soube que aquela maldita música do "Chupa que é de uva" se espalhou pelo Brasil. Believe me, folks... eu já odiava essa música antes de vocês saberem que ela existe. Mas essa música, aqui no Pará, é até legal, em comparação com algumas pérolas da arte. Recentemente ouvi um forró que foi uma maravilha. Tava passando pela rua, e de repente ouço um maldito carro de som tocando:

"Um mais um
Na matemática do amor, o resultado também não é três
Talvez
Multiplicando nosso amor você me compreenda"

WTF? Que porra de letra de música é essa? Mas... podia ser pior! Vocês acham que a banda Calypso é ruim? Pelo menos o Chimbinha escreve as próprias músicas! Isso no Pará é raridade.
A seguir, a lista de algumas músicas que eu já vi terem sido "traduzidas" para o brega:

Cher - Life after love
NX Zero - Razões e Emoções
Phil Collins - Invisible Touch
Rihanna - Umbrella (três versões diferentes)
James Blunt - Same Mistake (pelo menos umas 5 versões, incluindo uma do "Walbinho dos teclados")
Bonnie Tyler - Total Eclipse of the Heart
E muitas outras...

Pra completar, a música paraense agora achou um modo de fazer meus ouvidos derramarem ainda mais sangue arterial: agora eu ouço constantemente fucking jingles de campanha política compostos de paródias de brega, melody* e forró. Mas eu tratarei desse assunto num post exclusivamente dedicado à eleições paraenses. Aguardem.

*Acabei de perceber que nunca falei de melody aqui. Bom, não tem muito a se dizer. É tipo um brega mais dançante =P

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Se eu pudesse selecionar a coisa que eu mais odeio em Castanhal, seria o Restaurante Nagasaka. De quinta à domingo, à noite, rola o "Forró do Japa"; é só seguir o bat-sinal para se deparar com um show execrável. O que realmente me choca são as propagandas extremamente hiperbólicas dos shows. E olha que eu sou um cara muito exagerado! Exemplos:

Forrozão Tropycália: O show mais esperado do ano!
Isso porque o Scorpions vai tocar em Belém, em setembro.

Desejo de Menina: Esse cara tem um gogó de ouro!
Cara... não, tipo, não! Não, ele não tem!

Caviar com rapadura: Um super-mega show para Castanhal!
Destaque para o nome do grupo.

Léo Magalhães: O maior talento da atualidade!
Esse é meu favorito. O cara não é só bom... ele é o MAIOR-FUCKING-TALENTO da atualidade!

Como é só 10 reais pra entrar, o lugar sempre lota, com umas 1000 pessoas num lugar onde mal cabem 300.
Agora que trabalho no Yázigi meu ódio pelo Nagasaka cresceu 600%. Sabem por quê? Porque fica do outro lado da rua! Daí quinta, sexta e sábado eu tenho que me sujeitar àquele MALDITO carro de som tocando forró e anunciando o show a tarde inteira!

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Agora, vou contar alguns "causos", só pra desbaratinar.

Daí saio eu para comprar farinha no mercadinho perto de casa.

Loner: Aí chefe, cê tem farinha?
Caixa: Ah, tenho, ali.

Olho e só vejo farinha de mandioca. Paraense fica sem água potável, mas não fica sem farinha de mandioca, é impressionante.

Loner: Não chefe, farinha de trigo, cê não tem?
Caixa: Ah não, não tenho. Faz um tempão que não tem.

Esforço-me em disfarçar meu desprezo por um mercado que não vende farinha de trigo

Loner: Ah beleza, então vou lá na padaria ver se o cara me vende um quilo...
Caixa: Ah, não vai vender não...

Tirando 20 num teste de força de vontade pra não mandar o caixa à merda, fui à padaria.

Loner: Daê chefe, será que você pode me vender um quilo de farinha?
Padeiro: Ah, eu não tenho farinha.

Recusando-me a aceitar que uma padaria não tenha farinha, tentei novamente.

Loner: Não tem farinha de trigo, cara?
Padeiro: Ah, tenho sim!

Respirando fundo, esperei ele separar um quilo de farinha. Num saco de supermercado, ele colocou quase três quilos e me entregou. Eu decidi que era melhor não dizer nada e ir embora.

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Certo domingo, durante o Faustão, pops estava a expressar seu descontentamento pela novela das oito...

Pops: Puta, graças à Deus hoje é domingo, não tem Zé Bob pra me aborrecer...
Faustão: Hoje vamos receber o ator Carmo Dalla Vecchia!
Pops: ¬¬"

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Outro dia entra uma mulher completamente pinel no laboratório. Ela chega, com aquele olhar que só o vácuo encefálico é capaz de proporcionar, e diz à minha mãe que procura um médico. Resistindo à tentação de dizer que não temos psiquiatra, continuo calado em minhas anotações.

Mom: É serviço de pediatra ou alergista?
Bate-pino: É... alergista, é? É.
Mom: Ah... tá... certo, como é seu nome?
Bate-pino: É tal (esqueci, gente)
Mom: E seu telefone?
Bate-pino: *murmura algo ininteligível*
Mom: Perdão?
Bate-pino: *mumble, mumble*
Mom: Pode falar mais alto?
Bate-pino: Trezentosetrês...
Mom: Perdão?
Bate-pino: Trezentos e três...
Mom: 303? E o que mais?
Bate-pino: Trezentos e três...
*pops esconde o rosto atrás da revista*
Mom: Você tá sozinha?
Bate-pino: Não, eu estou comigo.
*Saio, não podendo mais conter o riso*

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Por enquanto tá bom. Semana que vem tem mais. Agradeço a visita de todos =)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Lendas Lendárias do Cursinho: Parte 3/3 - O Insulto Final

Finalmente, a tão esperada segunda parte das histórias do cursinho =D

O comentário do Carrera lembrou-me algo. As cartas ao Igor renderam ao nosso pequeno quarteto (Carrera, Judeu, Pantera e eu) e nossos amigos mais próximos uma certa popularidade entre a turma. Sem qualquer pedido ou incentivo, formou-se uma corrente de informações que concentrava-se no Judeu. A qualquer momento podia aparecer algum bilhetinho na mesa do Judeu, com informações como "Fulana quer pegar o Simão", "Hoje é aniversário do Adotado" ou "O nome do Boné Branco é Gilvan Jr." Isso ajudava muito a tornar nossas brincadeiras (principalmente as cartas) mais engraçadas e atualizadas.

Outro pequeno fato é que todos os professores imitavam siri por trás da bancada. A melhor imitação era a do professor Papai Noel.

Outro pequeno fato: o dono do Objetivo é o mesmo dono da UNIP. De quando em quando, os professores mencionavam faculdades. Ao começar a falar da UNIP, eles aumentavam o volume do microfone, dizendo que "A UNIP É UMA EXCELENTE FACULDADE, TOP DE LINHA...", enquanto os alunos entoavam "Olha o salário subindo!"

Lembrei-me do lual do cursinho. Ou melhor, de seu acontecimento. Tudo que me lembro do lual do cursinho é de uma fogueira, uma rodinha de "natural", muito álcool, o Piu-piu ficando pelado, uma longa conversa com o Fifo, trabalho braçal, meu primeiro beijo à três, e essa foto*. Foi uma boa noite... pelo menos o pouco que me lembro dela. Carrera, sinta-se livre para fazer mais comentários.

O professor Webel, de geografia, era famoso por suas gracinhas. Aplicava a terapia "Eu sou feliz!" ao aluno que desenhasse o mapa mais expressionante de nojento no Concurso KiNojo, dava para os alunos que respondiam certo uma balinha importada de "Itanhanhém", manifestava seu descontentamento balançando a cabeça entre muxoxos e murmurando "Expressionante!", e repudiava o cantor Wando, o qual ele freqüentemente criticava em aula. Conta a lenda que ocorreu um concurso no rádio que premiaria uma mulher com um jantar com o Wando. Um aluno (o que divulgou a história) foi inscrever o professor no concurso, mas o atendente respondeu que somente mulheres poderiam se inscrever. E completou "Mas vem cá, quem é esse tal de Webel? Você já é a quinta pessoa hoje ligando para inscrevê-lo"

Os professores de Biologia eram, de longe, as maiores figuraças. O professor Ambrósio era bom professor e bastante engraçado. Vivíamos mandando-lhe bilhetinhos perguntando como funcionava o sistema digestivo dos klingon, entre outras piadas de trekkie.

O professor Abe era uma figura. Um japonês baixinho, muito surdo, e que falava com um sotaque muito engraçado era quem mais rapidamente arrancava risadas dos alunos com suas piadinhas sem graça (Por que o mar é azul? Porque o peixinho faz "blu blu blu...") e seus mantras de aprendizado:
Abe: Pteridófita é...?
Classe: Planta!
Abe: Porque qualquer palavra, qualquer palavra, qualquer palavra que termina com fita é...?Classe: Planta!
Abe: Aêêê!
Um dia, durante uma aula de física, ele apareceu pela janelinha da classe. Ao ser convidado a entrar pelo professor Seu Peru, ele colocou a cabeça pela janela e disse "Non, non... só a cabecinha!"

O professor Fabião é outra figuraça. Eleito vereador (e posteriormente, deputado) praticamente só com votos de alunos, fazia a alegria da moçada. Fingia ser um aluno em dúvida dizendo: "Mas Fabião, seu gordo... escroto... como é isso aí que eu não entendi, ô balofo?" Coçava o saco, peidava no microfone, lançava arroizadas às alunas, e por aí vai. Escrevia ofensas ao professor Batatinha no topo da lousa, onde ele não alcançava, e dizia que, se fosse mentira, era só ele apagar. Uma vez, durante uma aula, um aluno exigiu silêncio da classe em esbórnia, ao que o professor respondeu: "Bah, aqui é o Biju, aqui é zueira! Quer ter aula, vai pro COC!" A represália foi grande, pois ele nunca mais fez essa piada.

O professor Papai Noel era muito engraçado. Quase sempre, ao mencionar portugueses, fazia um breve roleplay que começava com "Eu sou um purtugais... olhe a barriga!" Mencionava Parelheiros (um bairro muito afastado da Grande São Paulo) sempre como um lugar muito distante (Daí os judeus fugiram para um lugar onde ninguém pudesse encontrá-los... Eles foram para Parelheiros!) Sempre usava como ofensa os termos "Corintiano" e "Crustáceo" (Esse facínora! Meliante! Corintiano!) E vivia a se lamentar por morar perto demais do Parque São Jorge. Em dada aula, ele anunciou que em 18xx fora inaugurada a primeira faculdade de Medicina, em Salvador. E o Carrera completou "Ah, então foi aí que começou a imigração japonesa!"

*Na foto, da esquerda pra direita: Judeu, Popeye, uma guria, Boné Rosa, Simão (de penteado novo), Fifo, Phil Collins e eu embaixo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Turn and face the strain

A última parte das histórias do cursinho está armazenada num computador temporariamente inacessível. God knows que eu não vou digitar tudo de novo. Então assim que puder pegar o texto, pego e posto. Mas até lá, fiquem com mais histórias. Sempre que as pessoas conversavam sobre suas prévias mudanças de casa eu me resignava a ouvir, sem ter minha própria experiência para compartilhar. Em 22 anos de vida, eu só havia me mudado agora, quando vim para o Pará, e mesmo assim eu havia perdido a parte mais difícil do processo, que é esvaziar a casa anterior. Porém, dessa vez eu estive envolvido no processo, e tenho que dizer uma coisa: ou eu passei por um processo excepcional, ou mudança é uma das coisas mais tensas que podem pintar na rotina de alguém. Nunca antes tive que usar tão ao extremo minha força e astúcia (principalmente força). Mas estou certo de que a minha mudança foi peculiarmente difícil. A inspiração pra esse texto veio durante a própria, e eu elaborava o mesmo a cada passo, fazendo uma espécie de perfil do quão viril esse processo pode ser.

1- Como você desmonta os móveis de casa?
[ ] Contrata uma equipe
[ ] Com as ferramentas adequadas
[x] Com um canivete
Com meus pais trabalhando e meu irmão longe de casa, coube à mim desmontar a casa inteira sozinho com a única ferramenta que eu tinha em mãos: um canivete multiuso chinês (nem suiço era), o que tornou a missão ainda mais difícil. Para desmontar os móveis mais altos, eu ainda contava com um pequeno andaime improvisado e seriamente avariado. Sem contar que ainda haja muque pra segurar os móveis semi-desmontados para que não caiam e se destruam.

2- Para desmontar as peças pregadas, você:
[ ] Usa ferramentas elétricas
[ ] Usa um martelo
[x] Usa os punhos
Vou te contar, nada nesse mundo me deu uma sensação de virilidade tão forte quanto desmontar um armário no soco. Depois de desparafusar, sobraram só as placas pregadas que eu, com certo êxtase, mandei pelos ares na porrada. Durante o processo eu ainda tratei de soltar uma infinidade de impropérios a cada surpresa desagradável, e fazendo pausas de quando em quando para evitar a fadiga.

3- Depois de desmontar a casa toda, você:
[ ] Toma um banho e relaxa
[ ] Arruma tudo
[x] Toma uma breja e come um sanduíche
Vamos esclarecer uma coisa: numa mudança, o homem faz o trabalho pesado. Ele desmonta, carrega, quebra e empurra. Arrumação é o trabalho da mulher, bem como o de preparar um bom sanduíche para o homem. A única exceção se aplica às ferramentas; nunca - e eu reitero, NUNCA! - deixe uma mulher mexer em suas ferramentas. In a nutshell, foi graças à mulheres mexendo em ferramentas que eu acabei restrito a usar esse canivete (que, por sua vez, representou uma arrumação fácil)

4- Como você carrega as coisas para o caminhão?
[ ] Pede para os outros ajudarem
[ ] Usa carrinhos e outros apetrechos
[ ] Carrega uma coisa de cada vez
[x] Carrega quantas coisas conseguir de uma vez
Primeiro esclareçamos uma coisa: um macho de verdade nunca admite que algo é pesado demais para ele carregar. Se ele tiver que carregar uma geladeira sozinho, god knows que ele vai carregar ou morrer tentando. A reação mais comum a algo pesado demais é alegar preguiça e procrastinar ("Ah, depois eu levo, tem essas coisas aí no caminho atrapalhando! Tira isso daí que eu vou tomar uma cerveja, e aí eu levo"). Então lá ia eu, carregando coisa de uns 50, 60kg de uma vez (o que me rendeu dores no dia seguinte, mas finjam que eu não disse isso). Felizmente ninguém faz uma mudança totalmente sozinho, então todos solidariamente ajudam nas piores partes, como a geladeira e a máquina de lavar.

5- Como você vai para a nova casa descarregar os móveis?
[ ] No seu carro
[ ] No caminhão
[x] Na caçamba do caminhão, segurando a carga
Era tanta coisa que tivemos medo de que algo caísse pelo caminho. Daí fui eu, empoleirado na caçamba do caminhão, segurando as tranqueiras empilhadas. Quando o colchão saiu voando e eu peguei em pleno ar, percebi ter tomado a decisão certa. Uma cerveja e um cigarro adicionaram alguns pontos de hardcore ao processo.

6- Qual o melhor tempo para executar a mudança?
[ ] Num dia ensolarado
[ ] Numa tarde nublada
[x] Numa noite chuvosa
Pois é, além disso tudo, fui tomando chuva ¬¬"

7- Qual o melhor percurso para seguir com o caminhão?
[ ] Uma estrada ampla
[ ] Ruas da cidade
[x] Estradinhas de terra esburacadas
Cada solavanco me dava a sensação de que seria, a qualquer momento, sumariamente ejaculado de cima do caminhão. Cheguei muito perto de voar longe umas três vezes.

8- Uma vez em sua nova casa, o que faz primeiro?
[ ] Liga a TV
[ ] Toma um banho
[ ] Liga um CD do Phil Collins
[x] Liga um CD do Pantera
Colocar os móveis pra dentro de casa ao som do NX Zero que os vizinhos estavam ouvindo foi uma tarefa épica. Pra mostrar que tipo de som um macho de verdade ouve, botei um bom CD do Pantera bem alto (tá certo que também tinha Velvet Revolver no CD, mas Velvet também é maneiro).

E aqui estou eu agora, nesta casa onde ficarei temporariamente. Já dá pra perceber que tou bem avançado na dungeon, porque todos os inimigos subiram de level: aqui é muito longe, muito escuro, os vizinhos são emos, as lagartixas viraram realmente pequenos lagartos, o sinal de rádio da internet não alcança tamanha distância, e por aí vai. Mas tem um ponto bom: os Midnight Carnivals acabaram, pois a população artrópode desta casa é tal qual a de uma casa comum. Não mais passo horas caçando criaturas de seis pernas pela casa.