quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eleições em castanhal

Antes de mais nada, uma notificação: eu passei um mês inteiro escrevendo esse texto e adicionando novos fatos. Várias vezes vocês lerão "Hoje aconteceu tal coisa", mas não foi tudo no mesmo dia, alright?

Não importa em que cidade, estado ou país você more, tempos de eleição são sempre uma grande piada. Sempre há uma nova pataquada, uma palhaçada específica para cada região. Aqui no Pará não é diferente; de fato, é aqui que the shit hits the fan. A temporada de eleições foi inaugurada para mim quando começaram a divulgar as coligações. Estava eu vendo a televisão, e quando anunciaram a coligação "Pra Belém ficar pai d'égua"*, em meio às minhas risadas eu tive a certeza de que teria um longo e hilário texto a escrever num futuro próximo.

Pai d'égua = expressão paraense equivalente a "bom pra caralho".

A segunda coisa na qual reparei foi, no mesmo dia, voltando para casa. Vi desenhada no muro a coligação a qual pertence o atual prefeito: PR, PDT, PSDB, DEM, PMN, PP, PSB, PPS, PCdoB, PSC, PV, PTB e PTdoB. FUCKING LONG! I mean, só eu vi algo de MUITO errado nessa coligação, será só coisa da minha cabeça?

As campanhas compõem um show de horrores inédito na minha vida. Pra começar, o horário político. Duas vezes por dia eu sou bombardeado com uma avalanche de políticos de quinta; todos expostos pela rede local, que ainda opera em VHS. As péssimas imagens foram incrementadas nos últimos dias por uma mensagem de "HEAD CLEANING REQUIRED!" (necessária limpeza de cabeçote). Acho que hoje eles tentaram e fracassaram em limpar o cabeçote, pois a mensagem não apareceu, mas as cores também não.

Segue abaixo uma estatística dos políticos que se pronunciam:
75% não conseguem dizer Outubro (outubo ou utubu)
50% não conseguem dizer Castanhal (castinhal)
90% mencionam o Jaderlândia* e/ou o Fonte Boa e/ou o Imperador
100% possuem jingles
70% são vesgos**
85% comem o "s" em palavras no plural

*Jaderlândia costumava ser uma fazenda de propriedade do Jader Barbalho, que a galera chegou e tomou conta. As maiores casas de lá tem cerca de 60m²... sinta o drama. Bairros como o Imperador e o Fonte Boa não são muito melhores.
**Comecei a reparar nisso pela quantidade exorbitante de vezes que meu pai zombava dos políticos dizendo "Ei, tou aqui! Olha pra mim!"

Meu vereador favorito é o Bené, o cara que não sabe nem o próprio número de cor e possui a eloqüência e habilidade oratória do coelhinho da Duracell. Além, é claro, da boa aparência. Mas não esqueçamos alguns magníficos, como o Pintinho do Fonte Boa e o Zé do Ovo.

Um fato solto: os erros de digitação nas legendas são mais freqüentes do que seria normalmente aceitável, sendo que o mais comum é "liçensa".

Os candidatos apelam com alguns estratagemas francamente risíveis. O Sinval, que parece mais um pagodeiro do que um prefeito, não apela com nada, é um daqueles meramente figurativos. Aldenir tem uma nova carta sob a manga da qual falarei em breve. Nunca vi uma cidade onde o PT fosse tão fraco. Hélio Leite, o prefeito sem pescoço, tem o fator supremacia. Mas o que mais me faz rir é o Dr. Soares. Antes deixe-me explicar: nada contra ele, eu até gosto da plataforma dele. Mas que o cara é um comédia, ele é. Pra começar que as pessoas que ele coloca pra falar são algumas das mais feias e menos eloqüentes que já vi. Um deles diz "Não tem nada aqui. Não tem segurança, não tem saúde, não tem nada aqui. O prefeito não faz nada aqui. Não passa carro, não passa nada aqui" PORRA MAN, que não tem nada eu já saquei! Mas, muito mais do que isso, ele aparece com aquela língua de 17Kg e cara de criança super-envelhecida, falando que "...Castanhal tá um filé, uma maravilha, Castanhal tá uma boneca!" Como não rir? Ainda sobre a língua de 17Kg dele, é grande demais pra ficar dentro da boca, então ele fica sempre de boca semicerrada, num sorriso pateta, com o linguão de fora. Isso só torna mais engraçado ainda o quadro dele com o Jader Barbalho. You see, Jader Barbalho é o ACM do Pará, nosso coronel. Sendo do mesmo partido, quem melhor que ele pra botar moral? Daí temos o Barbalhão lá, falando com aquela pose de político pica larga, quebrando a banca, e segurando o pulso do Soares, que fica um pouco atrás dele, com a cara de bobo, boca semicerrada e língua de 17Kg exposta. Parece um filho pequenininho pedindo pro pai discutir com a professora que o colocou de castigo. É engraçado demais, só vendo pra entender.

Agora chegamos à pior parte. Castanhal é a cidade das músicas dantescas e dos pavorosos carros de som. Como disse anteriormente, TODOS os candidatos possuem jingles de campanha. Se no sudeste esses jingles já eram horríveis, imagine aqui, onde até a música normal é insuportável?45% fazem seus jingles parodiados de technobrega, outros 45% de forró. Essas músicas já são quase sempre paródias, daí temos paródias de paródias, com tema político e música infardável. Os 10% que escapam dessa listagem não são muito melhores.

Na capital mundial do carro de som, todos esses horrendos jingles são tocados constantemente, das seis da manhã às dez da noite, cidade afora nas malditas "naves", as quais já descrevi anteriormente. Estou eu, conversando com meus botões, quando alguma merda do naipe de "Olê! Olê olê olá! É no Jair Filho que agora eu vou votar!" vem me neurar. É de cair o cu da bunda!
Por falar em jingles, eu achava até 15 minutos atrás (seriously) que o pior de todos era o Hélio Leite, o prefeito vigente. O número da legenda dele é o 22, então seu comitê de campanha teve a nefasta idéia de criar a "Rádio 22", bloco que toca todos os seus VINTE E DOIS JINGLES! FUCK! Não basta uma, o cara me faz VINTE E DUAS músicas horríveis, que tocam every-single-fucking-minute! Mas o PT quis mostrar que faz melhor. Estava tranqüilamente curtindo minha mais recente aquisição literária, quando meu ouvido é dilacerado, tal qual um golpe de terçado nas bolas, pelo novo jingle de campanha do candidato Aldenir:

"É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13!
E quem não agüentar, pode ir pescar!
É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13 neles!
13! 13! 13! 13! 13! 13! 13! 13! 13! 13! 13! 13! 13! 13! 13!
Não tem jeito não, meu filho! É 13!
É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13! É 13!"

E por aí vai, num loop infinito!

Infelizmente eu não vi o desfecho desse cataclisma, pois me mudei às pressas de volta à Santos. Mas estou certo de que o que foi postado aqui já o suficiente para umas boas risadas. Abraços a todos =)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

The Running Man

Permitam-me tomar sua atenção por um momento. Agradeço a todos que tiveram a parcimônia e a boa-vontade de atender ao meu pedido e prestar um minuto de sua atenção à minha declaração. Permitam-me contar a história de um rapaz que passa por sofrimentos os quais um jovem escritor de classe média não comumente protagoniza. Permitam-me contar a história de um rapaz que se meteu numa confusão do tipo que a gente só vê nas novelas da TV. Permitam-me contar a história de um rapaz que está correndo para salvar a própria vida.

Por que eu vim para o Pará? Tantas vezes fui perguntado, e para algumas eu descrevi detalhadamente a situação, embora tenha despachado a maioria com um bem-humorado "Ainda estou tentando descobrir". No início do ano quando, por motivos que pretendo manter em segredo, eu organizava minha mudança para Curitiba, minha família recebeu uma visita inesperada. Zenildo Taylor, padrasto da minha mãe, e seu filho Kim, vieram à Santos. Ao que parecia, a família Taylor sofrera um baque tremendo e inesperado com a morte da esposa de Zenildo. Numa jornada em busca de si mesmo, e de uma nova razão para se viver, eles regressaram à Santos em busca de sua família, família essa que incluía minha mãe, seu marido e seus filhos. Ele queria ter a família unida novamente, ter todos junto consigo no Pará, onde ele poderia prover a todos com uma vida digna e confortável, junto àqueles que lhe desejam o melhor: sua própria família.

Needless to say, as coisas não eram bem assim. Mas eu chego lá.

Fascinados por essa idéia de uma vida tão maravilhosa, meus pais decidiram que iríamos ao Pará. E eu achei a idéia maravilhosa, pois precisava mesmo mudar de ares um pouco, e tratei de ajudá-los a convencer meus irmãos. Long story short, viemos ao Pará. E foi quando a merda acertou o ventilador.

Zenildo gradualmente revelava sua verdadeira natureza: um monstro, um homem verdadeiramente mesquinho e cruel. Sua so-called popularidade em Castanhal era justamente o contrário: poucas vezes vi alguém tão temido e odiado em algum lugar. Era mal visto em todos os lugares aonde ia, e denegriu nossa imagem na cidade imediatamente, simplesmente por nos associar a ele. Por meses nos foi difícil encontrar trabalho e amigos, por estarmos cobertos pela sombra de infâmia que esse estelionatário impôs sobre nós. E eu digo estelionatário pois ele nada mais é que um criminoso. Buscava diariamente nos extorquir desde que aqui chegamos, ameaçava-nos violentamente, bem como qualquer outra pessoa que se pusesse em seu caminho. Opera um jornal com uma licença jornalística falsa, uma vez que nem mesmo concluiu o Ensino Médio, e rouba artigos de outros jornais para abastecer seu jornal com matérias inócuas e despropositadas. Sua verdadeira intenção ao nos trazer para cá era era explorar a imensa inteligência e capacidade do meu pai, e o diploma de jornalismo da minha mãe. Mal sabia ele que não estava mexendo com trouxas, e não nos deixamos intimidar nem sermos roubados por esse facínora. Nossa recusa em, francamente, "trabalhar por ele" foi o golpe final em sua desgraça, e a vida de Zenildo Taylor finalmente atingiu o fundo do poço.

Esta semana, porém, as coisas complicaram. Às portas da falência, Zenildo está tentando tirar dinheiro de qualquer um e de qualquer jeito, sob sua especialidade: a intimidação e agressão. Porém, como sempre, não nos deixamos intimidar por ele. Numa tentativa desesperada de provocar a fúria do meu pai - afinal, ele é um idoso comprovadamente insano. Uma agressão contra ele significaria uma gorda indenização - ele foi ao trabalho de meu pai, onde o agrediu verbal e fisicamente. Mas em lugar de ceder à provocação, meu pai foi à polícia. O delegado teve imenso deleite em ver alguém finalmente se erguer contra essa ameaça à sociedade, e logo tratou de enquadrá-lo em DEZENAS de crimes. Mas a história não acaba aqui.

Acuado, enfurecido e insano, Zenildo fez aquilo que andava ameaçando já há muito tempo: planeja matar-nos um por um. Aqui é fácil e barato contratar um pistoleiro, por isso não duvido nada que ele possa ter feito isso. Eu queria ficar e enfrentá-lo, pois não tenho medo dele, mas meu pai foi inflexível: ele vai mandar minha irmã de volta à Santos. Ele me mandou com ela para protegê-la, mas sei que diz isso só para amaciar meu orgulho; na verdade, ele teme pela minha segurança também. Enquanto isso, o processo continua correndo. Meus pais agora andam sob escolta policial e, com alguma sorte, esse bandido receberá a devida punição.

Quanto à mim... estou voltando para São Paulo com minha irmã. Saio de Castanhal hoje para voltar ao lugar do qual nunca deveria ter saído, e com a sombra da morte a nebular o céu sobre minha cabeça. Tou voltando, gente. Wish me luck.