segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Inutilidade

Eu sou um inútil. Sempre fui, sempre serei. Não tenho ilusões de acreditar que um dia serei algum pilar no qual algo ou alguém se sustente. Talvez algum dia, quem sabe, alguma circunstância especial me ofereça uma posição em que eu sirva para alguma coisa, e eu talvez eu não me esquive dessa oportunidade. Mas até que o destino me force ao contrário, serei um inútil.

O que é um escritor, realmente? O quão útil um literário é? Só outros literários realmente enxergam, ou melhor, acreditam em sua importância. Eu não tenho essas ilusões. Sempre achei, desde o simples blogueiro a Luís de Camões, todos uns inúteis. Como um escritor é diferente de um músico ou ator? Todos nós - artistas - vivemos de criar a arte, ou reproduzí-la. Todos recebemos fortunas - ou ninharias - para, basicamente, entreter. Isso eu sempre fiz bem. Sempre tive grande sucesso em entreter, em ser ouvido, ser lido. Seria isso "útil"? Nunca achei que fosse.

Não me importo em ser um inútil. Gosto de ser quem sou, gosto de ser como sou. Tem gente que gosta que eu seja como sou, que aprecia minha inutilidade ao ponto de não realmente me julgar inútil. Mas eu sei que sou, e não me importo. Não desmereço, de forma alguma, mas também não tenho intenção de me unir às fileiras daqueles que apenas julgam dignos aqueles que trabalham. Que um homem que trabalha doze horas por dia e sustenta a família é mais digno do que aquele que trabalha pouco e investe seu tempo e dinheiro no hedonismo. Se não me atenho às morais religiosas, por que deveria ater-me às sociais? Não me importo que me olhem torto. Sou um inútil.

Sou um inútil, mas não sou um pária. Não contribuo, mas não atrapalho. Busco sempre não incomodar, e apenas espero não ser incomodado. Nessa sociedade contemporânea, sou apenas um espectador de passagem, como um curioso que espia o acidente de carro enquanto trafega do nada para lugar nenhum. Não mato e, em troca, apenas gostaria de não ser morto.

É uma vida curta, e já nos oferece tanto sofrimento. Não precisamos ficar angariando mais ainda. Quero só ser feliz. Quero só ter paz. Se isso te incomoda, sinto muito. Sou um inútil. Sou um escritor. Quero apenas sorrir hoje, amanhã e sempre. E se eu faço alguém sorrir de vez em quando, se eu faço alguém pensar de vez em quando, talvez eu não seja tão inútil assim.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Saudade

Consigo pensar em poucas expressões tão equivocadas quanto "matar a saudade".

Saudade. Um substantivo do qual os lusófonos se orgulham de ter exclusividade. A poesia que essa palavra invoca desperta essa vaidade pela riqueza de nossa língua. No entanto, essa exclusividade pára no léxico. A saudade é muito mais que isso, é um sentimento pelo qual todos os seres vivos estão sujeitos a serem vitimados. Ingleses miss their beloved, franceses manquez pas l'amour qui, e cães nem conhecem esse termo, mas sentem saudade de seus donos.

Por que sentimos saudades? Chego à conclusão de que o amor é a mais poderosa droga que existe. Desde o primeiro sorriso, a primeira carícia, a primeira palavra de carinho, sentimos o gostinho do amor e, como os carentes seres humanos que somos, viciamos imediatamente. Precisamos do amor, precisamos daquilo que amamos e daqueles que nos amam. A saudade surge no primeiro momento em que somos desprovidos daquele determinado objeto de afeição. A saudade é a crise de abstinência daqueles que amam.

E por que dizer "matar a saudade" é equivocado? Porque a saudade é implacável! A saudade é imortal, e é um mal que nos aflige eternamente, como um ferimento de guerra na perna que dói nos dias frios. Você cria estima por alguém, e essa pessoa vai embora. Começa a surgir o monstro terrível da saudade. Quanto mais o tempo passa, mais forte ele cresce, alimentando-se dos pensamentos de carinho que você tem pelos amados. Quando você reencontra essa pessoa amada, o monstro enfraquece, recua e hiberna, mas jamais morre. E quando essa pessoa vai embora, ele, que não morreu, desperta, e passa açoitá-lo novamente. Às vezes você passa tanto tempo sendo açoitado pelo monstro da saudade de alguém que nem dói mais, e você esquece que está apanhando. Porém, à mera menção da existência dessa pessoa, a existência do monstro é lembrada, e o próximo açoite dele doerá dantescamente.

O melhor que podemos fazer contra o monstro é mantê-lo sempre enfraquecido. É manter contato, é visitar ocasionalmente. É expressar o carinho sentido, desejando desesperadamente que seja recíproco, para que esse monstro se enfraqueça e pare de nos torturar.

A saudade nunca morre. Eu sei bem disso. Sendo um homem abençoado com amigos em todos os lugares, sou simultaneamente amaldiçoado a sentir saudade constantemente. E hoje a saudade bate muito forte no meu peito. A saudade nunca morre. Só quem morre somos nós. Às vezes, de saudade.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Review - Sherlock Holmes - O Filme

Sou um grande fã das histórias de Sir Arthur Conan Doyle. Já li todos os romances e dezenas de contos.
Sou um grande fã dos filmes do Guy Ritchie. Todos eles estão entre meus filmes favoritos.
Sendo assim, foi com grande excitação que aguardei o lançamento desse filme... e com grande tristeza que perdi a chance de vê-lo no cinema. Porém, graças à magia da internet e DVD players, ontem à noite eu o assisti e, MINHA NOSSA! Atingiu todas as minhas expectativas!

Começando pelo próprio Holmes, Robert Downey Jr. mais uma vez deu um espetáculo de interpretação. O Holmes do filme não é tão fiel ao dos livros - traz uma forte adaptada de modo a protagonizar melhor uma história mais apelativa ao público, além de uma significativa influência do Guy Ritchie movie way - mas é fiel o suficiente para agradar até aos fãs mais fervorosos do detetive, entre os quais eu me incluo. Ele traz todo o pragmatismo do detetive aliado a um inédito charme e senso de humor, que o tornam um personagem cativante e envolvente.

Jude Law encarna com maestria o veterano de guerra Dr. John H. Watson. Ao contrário de Holmes, Watson está fidelíssimo ao original de Conan Doyle. Meio teimoso, meio romântico, e totalmente fascinado pelo método investigativo de Holmes, ainda que se mostre frequentemente irritado com a excentricidade do amigo. Os dois formam uma dupla tão entrosada quanto a original. De fato, para os fãs da série do médico, é fácil traçar um paralelo entre a amizade dos dois e a amizade entre House e Wilson: Amigos que permanecem amigos, apesar das brigas e diferenças, unidos pela amizade, pela curiosidade e pela ciência.*

*Só depois de escrever essa resenha é que fui descobrir que Gregory House foi inspirado em Sherlock Holmes... Elementar, meu caro leitor.

Outros personagens também representam muito bem seu papel: Irene Adler e Lord Blackwood, além dos clássicos Inspetor Lestrade, detetive da Scotland Yard, o maléfico professor Moriarty, arqui inimigo de Holmes, e Mary Morstan, noiva de Watson, completam a galeria de personagens do filme. Todos representam elementos importantes da história, preenchendo as entrelinhas de uma excelente trama. Eu só lamento a ausência de meu personagem favorito - Mycroft Holmes, irmão mais velho de Sherlock, agente do Serviço Secreto britânico, e ainda mais brilhante que o irmãozinho, é apenas brevemente mencionado no filme.

Mesmo quase um século após o lançamento da última história do detetive, o roteiro do filme conseguiu criar uma história de mistério e crime em um clima que traz toda a essência das histórias publicadas por Conan Doyle. Todo o exercício do método de Holmes se vê presente no filme, e a narrativa do detetive segue exatamente igual à dos livros. O filme tem um pouco mais de ação e pancadaria do que se costuma ver em suas aclamadas histórias, mas isso não é nada incômodo - muito pelo contrário. Cada elemento peculiar à história tradicional acrescentado ao filme não chega como um intruso, mas como um convidado muito bem vindo. A fotografia é excelente, e a trilha sonora também.

Sherlock Holmes é bem o que eu esperava: Um romance de suspense e mistério digno de Holmes, representado por ótimos atores em um lindo cenário cheio de ação, tudo costurado pelas habilidosas mãos de um excelente diretor. Um filme que é capaz de agradar a todos os públicos, e eu recomendo para qualquer pessoa que queira assistir um bom filme.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Diga NÃO à modéstia!

Eu não sou um homem modesto. Desnecessário dizer, salta aos olhos. Quem bem me conhece sabe que eu acho a modéstia dispensável, mas não realmente compreende como eu a julgo tóxica.

Antes de mais nada, a modéstia é uma perda de tempo e um desperdício de energia. Tomemos como exemplo meu pai: Ele é um homem extremamente e, o ponto que pega, obviamente inteligente. Se é assim tão óbvio o seu intelecto, por que dar-se ao trabalho de dizer "Ah, que nada, nem sou inteligente..."? Por que e para que negar qualidades que lhe são evidentes e inegáveis? Por que é considerado uma virtude negar suas qualidades, seu talento? Por que pessoas que se diminuem são melhor vistas? Eu simplesmente não compreendo. É uma perda de tempo, é patético! As pessoas deveriam encher o peito sempre e dizer "Eu sou foda, porque sou bom em tal coisa!". Pessoas belas deveriam ter orgulho de sua beleza. Pessoas inteligentes deveriam transpirar inteligência. Bons corredores deveriam erguer o queixo e dizer "Corro rápido mesmo!". Bons escritores deveriam expor seu trabalho e receber elogios com um "Obrigado, eu mandei bem". Se todos sentissem a liberdade de exibir sua grandeza, sem serem limitados por uma sociedade intimidadora que vê a modéstia como indicador de humildade, que prezam a baixa auto-estima como virtude, e que olha para os que se elevam como esnobes, todos seriam mais confiantes, mais livres e mais felizes.

Em segundo, a modéstia é diminutiva, diminuta e intimidadora. Pessoas que abraçam a modéstia negam suas qualidades e são vistas como superiores, e vêem com superioridade nem sempre adequada. Afinal, as pessoas são inseguras e, muitas vezes, fracas. Sendo assim, incentivam a escalada de uma "virtude" que as poupe de ver como aqueles ao seu redor são grandes, diminuindo sua necessidade de crescer, e poupando-o da obrigação de ser também grandioso; afinal, o legal é ser normal, o BOM é ser POUCO. Quem tem MUITO, é MAU. Isso traz ao ser humano médio o dever de forçar-se a abraçar a modéstia também, por medo da represália. Por medo de ser MAU. Por medo do estigma formado de que quem realmente tem muito, finge ter pouco, e quem mostra ter muito, na verdade mostra mais do que realmente tem. Dessa relação oximorônica, nascem os falsos modestos, que são, inocentemente, elementos tóxicos da sociedade. Os falsos modestos são bons no que fazem, mas têm que esconder esse fato, e ressentem o mundo por isso. Ninguém deveria sentir-se obrigado a ocultar sua grandeza.

Isso me leva ao cúmulo do paradoxo que é a modéstia: Eu chego ao ponto de acusar a modéstia de ser uma prepotência mascarada... Muitas vezes, até aqueles que a ostentam estão completamente obtusos de sua prepotência. Por exemplo, ao meu ver, um homem que seja muito bom em, sei lá, futebol, resolve ocultar esse talento. Em sua mente, inconscientemente, o pensamento que se dá é "Eu sou muito melhor em futebol que essas pessoas. Se eles souberem como eu sou superior, não vão querer conviver comigo, serão intimidadas pela minha grandiosidade! Sendo assim, é melhor eu ficar na minha". A modéstia é despertada e incentivada pela prepotência, medo e insegurança. Sendo assim, é maléfica, tóxica e desnecessária.

Mas não vos permitam levianamente confundir modéstia com humildade. Enquanto a modéstia é prejudicial e retrógrada, a humildade é divina e sublime. A modéstia nos OBRIGA a ocultar nossa grandiosidade perante a mediocridade mundana, mas a humildade nos PERMITE compreender a grandiosidade verdadeira, visualizar o ideal e crescer. As duas são confundidas por sua essência similar: a da inferioridade. Porém, a diferença crucial está no fato de que a modéstia prega a auto-inferioridade. A humildade é nada mais que a compreensão de sua inferioridade perante o infinito.

Tomemos como exemplo alguém que seja muito belo. Uma pessoa modesta negaria sua evidente beleza, e por que motivo? Nenhum. Uma pessoa sem humildade é ainda pior. Ela provavelmente aceitaria soberbamente a presumida infinitude de sua beleza, sem reconhecer o verdadeiro infinito, e jamais evoluiria em sua direção. Uma pessoa bela, porém humilde, reconheceria que sua beleza, apesar de majestosa, não é absoluta. Ela trabalharia em sua manutenção, buscaria tornar-se ainda mais bela, saberia que deve existir algo ainda mais belo que ela. Uma pessoa humilde sabe que, por melhor que ela seja, existem infinitas coisas ainda melhores.

Por isso, a humildade é tão sublime: Ela nos incita a sermos cada vez melhores, simplesmente por sabermos que não somos. Uma pessoa consciente de sua grandiosidade e, ao mesmo tempo, de sua infinita possibilidade de melhorar, tornar-se-á alguém sempre cada vez melhor. A modéstia inibe a grandiosidade e, apesar de ser frequentemente confundida com a humildade, é na realidade sua pior inimiga. Faça um favor a si mesmo hoje: Olhe-se no espelho e diga "Eu sou foda! Mas posso melhorar". A evolução depende desse seu pequeno esforço.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A voz do povo é a voz de... quem, mesmo?

Lembram da temporada de ataques do PCC? Aquele caos generalizado, aquele terror assolando as ruas? Lembram das dezenas de mortes, das chacinas, do colapso do sistema organizacional sobre o qual nossa sociedade se baseia? Lógico que não, nunca aconteceu.

Apesar da meia dúzia de ônibus incendiados e dos ataques isolados e sem cabimento algum, o verdadeiro ataque terrorista se deu no plano midiático. É incrível a capacidade que as pessoas têm de absorver, desenvolver e propagar boatos. Um idiota qualquer ouviu que um local foi atacado, e espalhou por aí que estavam "ocorrendo uma série de ataques". Uma nova trupe de idiotas ouviu isso, e vazou a idéia do caos social iminente. Do caos social iminente, passamos à beira da guerra civil. E por que? Porque algum bandido pé-de-chinelo levou um balaço na cara, e um monte de gente achou que isso tinha alguma importância. Jamais me esquecerei do dia em que, em pleno pânico social, o qual eu categoricamente ignorei, estávamos eu e meu amigo Gustavo indo a pé para a faculdade. Cruzando a Av. Ana Costa, minha mãe me liga no celular dizendo que a Ana Costa estava um pandemônio, trânsito parado, tiros, explosões, pessoas correndo por suas vidas. Olhei ao redor da mencionada avenida, a qual encontrava-se até mais pacata que o habitual, e meramente repliquei "Puxa, é mesmo?"

É isso mesmo, gente. O crime existe, está lá fora. As organizações criminosas também, e estão ganhando poder diariamente. Mas vocês acham o que, que a vida é Streets of Rage? Organização criminosa nenhuma JAMAIS dominará o país, jamais dominará sequer uma cidade. O fato é que ninguém quer uma guerra civil. Ninguém quer tiroteios e trincheiras nas ruas. Sendo assim, o governo cede, negocia, apazigua, e fica aquela corda bamba instável que é a relação de poder entre o crime e o Estado. Mas é preciso ser um grande idiota para acreditar que o crime é capaz, sob qualquer hipótese, de subjulgar o Estado! Se, de repente, o PCC, o CV, o MST, o PQP ou o raio que o parta resolvessem sair instaurando o caos urbano por aí, o Exército iria às ruas mais rápido do que você pode sarcasticamente exclamar "Oh! E agora quem poderá me defender?"!

Infelizmente, o poder da boataria, a língua solta e suja do povo polui os canais de informação como uma gota de óleo numa caixa d'água. A mídia colabora com isso, mas fazer o que? Vai deixar de noticiar um aviso de toque de recolher, um ataque a uma determinada repartição só porque "é exatamente o que os criminosos querem? Que nós nos preocupemos quando não há com o que se preocupar" Lógico que há com o que se preocupar, mas com o que sempre houve. O terror nada gera além de mais terror. E a ignorância popular é o catalizador ideal dessa reação explosiva, dessa substância volátil chamada insegurança pública. O medo do povo transforma um marginalzinho de moto com um revólver caseiro gritando "Fecha tudo!" em um cavaleiro do apocalipse. E se ninguém fechasse nada? Se ninguém desse bola ao toque de recolher? Eles iam fazer o que, exterminar a cidade inteira? Lavar as ruas com sangue? The fuck they would!

E agora estão causando mais terror por uma questão trivial: um bandido morreu. Foda-se, bem feito. Vítimas da sociedade moderna? Guerreiros com muito pouco querendo só o que lhes é de direito? Meu rabo que são! Toda a possível poética que alguém pode vir tentar atribuir à marginalidade me ojeriza. Em sua revolta contra as classes altas, a escória dispara às cegas contra um alvo que não conseguem atingir, por sua demasiada altitude. Nessa guerra, tal qual uma Guerra, dessa vez Flamejante, entre EUA e Rússia, eu sou uma pacífica República Tcheca. Eu só quero seguir com minha existência feliz, aprimorando a minha cultura e qualidade de vida. Mas isso não é possível com a eterna preocupação que me trazem os mísseis que sobrevoam meus céus, indo de um alvo ao outro, sempre preocupado se algum dia algum desses, proposital ou acidentalmente, um deles interromperá sua trajetória e cairá sobre minha cabeça.

Não vestirei a carapuça de vítima. Não me permitirei ser alvejado em uma guerra que não me concerne. Não apenas me esquivarei, mas defletirei quaisquer projéteis que sejam lançados contra mim, da mais modesta pedrinha à mais gargantual das ogivas atômicas. Que se fodam vocês riquíssimos que extorquem o povo. Que se fodam vocês miseráveis que fazem dos inocentes de presa. Apenas me deixem em paz.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Critico mesmo!

Uma vez estávamos eu e alguns amigos a discutir literatura. Eu tenho uma relação de amor e ódio com discussões artísticas. Por mais que eu as adore, especialmente literatura e cinema, eu tenho um sério problema: não tenho o menor interesse em ouvir falarem sobre coisas que não conheço (como livros que não li e bandas que nunca ouvi) e detesto discutir com gente que não gosta do que eu gosto. Como na maioria dessas discussões acabam pipocando coisas que eu não conheço ou não gosto, tenho momentos de grande desgosto durante essas discussões. Não é como se eu não estivesse disposto a abrir minha mente e aceitar os pontos de vista dos outros. É que eu acho que gosto é que nem cu: alguns deixam a merda sair, e outros deixam a porra entrar. Quando se fala de arte, não tem nada que você possa dizer que convença uma pessoa a mudar de gosto... se ela mudar, será por si mesma. Sem contar que a maioria das pessoas que discute arte (incluindo eu) acabam por diversas vezes caindo na babaquice de posarem como intelectuais e manjadores, e aí o papo fica um saco.

Mas estou divagando, nem era esse o assunto do texto. Estávamos discutindo literatura quando alguém soltou o Paulo Coelho na roda. Não era falando bem, claro. Ninguém nunca fez a cagada de falar bem do Paulo Coelho na minha frente... Eu comecei a sentar a naba no infame escritor, as usual, quando uma garota resolveu defendê-lo. Não que ela gostasse dele - foi só pra me contrariar, mesmo - e aí eu me empolguei. Papo vai, papo vem, ela vira e fala "Você faz melhor?"

AH NÃO! Você NÃO me lançou o "Você faz melhor?", mina! Diz que não, por favor!

Meu sangue ferveu, minhas pupilas se dilataram, meus punhos cerraram... e com a compostura de um cavalheiro, eu a olhei nos olhos e respondi: "Na real? Faço!"
Um dar de ombros, e fim de discussão. Mas não pra mim. Não na minha cabeça. Eu tenho OJERIZA de gente que ataca uma crítica com "Você faz melhor?"! Tem casos que sim, faz mesmo! Prepotência à parte, eu acho que eu - assim como um tamanduá com uma caneta - escrevo melhor que o Paulo Coelho. O Neto foi um bom jogador de futebol, e ele faz melhor que o Souza, a quem o comentarista acusou de jogar pior que os quero-queros do campo de futebol. Mas e se eu não escrevesse? E se o Neto não jogasse? Eu tenho que ser o Joe Satriani pra dizer que o Júnior não sabe tocar guitarra? Eu tenho que ser o Clint Eastwood pra dizer que o Michael Bay não consegue fazer um filme decente?

Tem gente que sabe do que tá falando sem necessariamente "fazer melhor". Além de casos óbvios, é claro, que você sabe que o cara é ruim. Você é melhor? Não. Mas faz outras coisas, ué. Todo mundo é um crítico. Todos estão sujeitos a criticar e serem criticados um dia. Mas se alguém aponta que o que fulano faz é ruim, não é porque ele faz melhor. Sei lá, nem tenho mais nada a dizer. Só por acaso lembrei disso hoje e resolvi compartilhar minhas opiniões com quem ler... se não gostou, não vou te dizer pra fazer melhor.

sexta-feira, 26 de março de 2010

O Caso Nardoni já deu no saco

Estava eu aqui, entediado, uma vez que hoje não tenho aula, quando senti o alívio com o início do Jornal Nacional. Legal, pensei, vou me atualizar nas notícias do Brasil e do mundo! Tolo, eu. Nem mesmo me ocorreu que o jornal mostraria notícias sobre o caso Nardoni, muito menos que abriria o jornal com uma longa reportagem.

Cansei do caso Nardoni. Eu já tava cansado do caso na semana que a menina morreu. Eu não conheço a família, não conhecia a menina, não estou envolvido com o caso sob aspecto algum, e não me importo absolutamente com seu desfecho. Agradeceria sinceramente se parassem de me bombardear com essa bobagem o DIA INTEIRO. Se uma rede de televisão transmite o caso o dia inteiro, tem outra transmitindo de tarde, e mais uma à noite, e os canais de jornalismo 24 horas transmitem essa porra madrugada adentro.

Claro, lamento a tragédia, preferiria que não tivesse acontecido. Um homem que mata a própria filha me tira um pouco da minha já pouca fé pela humanidade. Mas ele matou a menina. Ele está sendo julgado, ele será condenado, e eu nunca mais vou ouvir falar do nome Nardoni. Eu NÃO quero saber! Aliás, se seu sobrenome é Nardoni, por favor, não venha conversar comigo até junho, pois eu vou passar o outono inteiro ainda de saco cheio disso.

Como se a pura amolação do caso não fosse irritante o suficiente, meus pais me repreendem por preferir ler um livro ou jogar video-game sobre ficar a porra do dia todo acompanhando esse caso nos jornais. Ah, olha lá, eles chegaram no tribunal. Puxa vida, fulando chorou. O advogado de defesa, como ele consegue? Ah, me dá um tempo! Preferia só simplesmente ouvir "condenado" ou "absolvido" ao final do julgamento, pra eu saber se devo ficar satisfeito com o sistema judiciário, ou se devo desejar que todos os jurados morram afogados em sua própria imbecilidade.

Nas poucas vezes que ainda assisti alguma cobertura desse caso, vi várias vezes gente gritando aprovação ao promotor, xingando os réus, carregando placas, fazendo ponto na frente do fórum... ah, memão, essa gente não tem mais o que fazer? Fico só imaginando pessoas faltando ao trabalho, deixando de passar o dia com a família, de sair com os amigos, passear com o cachorro, praticar auto-sexo, ou qualquer outra coisa, pra ficar causando o dia inteiro na frente do fórum sem propósito nenhum! Como tem babacas nesse mundo...

Só pra constar, espero que o Alexandre Nardoni, que matou uma criança e me proporcionou todo esse desgosto, morra engasgado com o próprio esperma.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Tenho assistido muito House...

Meu irmão não assiste House... a conversa com meu pai procedeu as follows...

Paulo: Pai, que que é essas perebas que cê tem aí?
Pai: É eritema nodoso, uma doença auto-imune.
Paulo: Que é isso?
Pai: Os anticorpos passam a atacar o próprio corpo. Aí nessa doença causa inchaço dos vasos sanguíneos.
Paulo: O que causa isso?
Pai: Nada... se manifesta de repente.
Paulo: E tem cura?
Pai: Não, mas tem tratamento. Corticóides.
Paulo: Que isso?
Pai: São hormônios que regulam o metabolismo.
Paulo: Sei...

Eu assisto muito House. A conversa com meu pai, 5 minutos antes, foi...

Pedro: Que são essas urticárias?
Pai: Eritema nodoso.
Pedro: Bacteriana?
Pai: Auto-imune.
Pedro: Não fode!
Pai: Antes isso que câncer...
Pedro: Tá tomando corticóide?
Pai: Não, mas tenho que tomar...


Será que assistir 5 temporadas de House elimina alguma matéria na faculdade de medicina? xD