sexta-feira, 23 de abril de 2010

A voz do povo é a voz de... quem, mesmo?

Lembram da temporada de ataques do PCC? Aquele caos generalizado, aquele terror assolando as ruas? Lembram das dezenas de mortes, das chacinas, do colapso do sistema organizacional sobre o qual nossa sociedade se baseia? Lógico que não, nunca aconteceu.

Apesar da meia dúzia de ônibus incendiados e dos ataques isolados e sem cabimento algum, o verdadeiro ataque terrorista se deu no plano midiático. É incrível a capacidade que as pessoas têm de absorver, desenvolver e propagar boatos. Um idiota qualquer ouviu que um local foi atacado, e espalhou por aí que estavam "ocorrendo uma série de ataques". Uma nova trupe de idiotas ouviu isso, e vazou a idéia do caos social iminente. Do caos social iminente, passamos à beira da guerra civil. E por que? Porque algum bandido pé-de-chinelo levou um balaço na cara, e um monte de gente achou que isso tinha alguma importância. Jamais me esquecerei do dia em que, em pleno pânico social, o qual eu categoricamente ignorei, estávamos eu e meu amigo Gustavo indo a pé para a faculdade. Cruzando a Av. Ana Costa, minha mãe me liga no celular dizendo que a Ana Costa estava um pandemônio, trânsito parado, tiros, explosões, pessoas correndo por suas vidas. Olhei ao redor da mencionada avenida, a qual encontrava-se até mais pacata que o habitual, e meramente repliquei "Puxa, é mesmo?"

É isso mesmo, gente. O crime existe, está lá fora. As organizações criminosas também, e estão ganhando poder diariamente. Mas vocês acham o que, que a vida é Streets of Rage? Organização criminosa nenhuma JAMAIS dominará o país, jamais dominará sequer uma cidade. O fato é que ninguém quer uma guerra civil. Ninguém quer tiroteios e trincheiras nas ruas. Sendo assim, o governo cede, negocia, apazigua, e fica aquela corda bamba instável que é a relação de poder entre o crime e o Estado. Mas é preciso ser um grande idiota para acreditar que o crime é capaz, sob qualquer hipótese, de subjulgar o Estado! Se, de repente, o PCC, o CV, o MST, o PQP ou o raio que o parta resolvessem sair instaurando o caos urbano por aí, o Exército iria às ruas mais rápido do que você pode sarcasticamente exclamar "Oh! E agora quem poderá me defender?"!

Infelizmente, o poder da boataria, a língua solta e suja do povo polui os canais de informação como uma gota de óleo numa caixa d'água. A mídia colabora com isso, mas fazer o que? Vai deixar de noticiar um aviso de toque de recolher, um ataque a uma determinada repartição só porque "é exatamente o que os criminosos querem? Que nós nos preocupemos quando não há com o que se preocupar" Lógico que há com o que se preocupar, mas com o que sempre houve. O terror nada gera além de mais terror. E a ignorância popular é o catalizador ideal dessa reação explosiva, dessa substância volátil chamada insegurança pública. O medo do povo transforma um marginalzinho de moto com um revólver caseiro gritando "Fecha tudo!" em um cavaleiro do apocalipse. E se ninguém fechasse nada? Se ninguém desse bola ao toque de recolher? Eles iam fazer o que, exterminar a cidade inteira? Lavar as ruas com sangue? The fuck they would!

E agora estão causando mais terror por uma questão trivial: um bandido morreu. Foda-se, bem feito. Vítimas da sociedade moderna? Guerreiros com muito pouco querendo só o que lhes é de direito? Meu rabo que são! Toda a possível poética que alguém pode vir tentar atribuir à marginalidade me ojeriza. Em sua revolta contra as classes altas, a escória dispara às cegas contra um alvo que não conseguem atingir, por sua demasiada altitude. Nessa guerra, tal qual uma Guerra, dessa vez Flamejante, entre EUA e Rússia, eu sou uma pacífica República Tcheca. Eu só quero seguir com minha existência feliz, aprimorando a minha cultura e qualidade de vida. Mas isso não é possível com a eterna preocupação que me trazem os mísseis que sobrevoam meus céus, indo de um alvo ao outro, sempre preocupado se algum dia algum desses, proposital ou acidentalmente, um deles interromperá sua trajetória e cairá sobre minha cabeça.

Não vestirei a carapuça de vítima. Não me permitirei ser alvejado em uma guerra que não me concerne. Não apenas me esquivarei, mas defletirei quaisquer projéteis que sejam lançados contra mim, da mais modesta pedrinha à mais gargantual das ogivas atômicas. Que se fodam vocês riquíssimos que extorquem o povo. Que se fodam vocês miseráveis que fazem dos inocentes de presa. Apenas me deixem em paz.