segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Inutilidade

Eu sou um inútil. Sempre fui, sempre serei. Não tenho ilusões de acreditar que um dia serei algum pilar no qual algo ou alguém se sustente. Talvez algum dia, quem sabe, alguma circunstância especial me ofereça uma posição em que eu sirva para alguma coisa, e eu talvez eu não me esquive dessa oportunidade. Mas até que o destino me force ao contrário, serei um inútil.

O que é um escritor, realmente? O quão útil um literário é? Só outros literários realmente enxergam, ou melhor, acreditam em sua importância. Eu não tenho essas ilusões. Sempre achei, desde o simples blogueiro a Luís de Camões, todos uns inúteis. Como um escritor é diferente de um músico ou ator? Todos nós - artistas - vivemos de criar a arte, ou reproduzí-la. Todos recebemos fortunas - ou ninharias - para, basicamente, entreter. Isso eu sempre fiz bem. Sempre tive grande sucesso em entreter, em ser ouvido, ser lido. Seria isso "útil"? Nunca achei que fosse.

Não me importo em ser um inútil. Gosto de ser quem sou, gosto de ser como sou. Tem gente que gosta que eu seja como sou, que aprecia minha inutilidade ao ponto de não realmente me julgar inútil. Mas eu sei que sou, e não me importo. Não desmereço, de forma alguma, mas também não tenho intenção de me unir às fileiras daqueles que apenas julgam dignos aqueles que trabalham. Que um homem que trabalha doze horas por dia e sustenta a família é mais digno do que aquele que trabalha pouco e investe seu tempo e dinheiro no hedonismo. Se não me atenho às morais religiosas, por que deveria ater-me às sociais? Não me importo que me olhem torto. Sou um inútil.

Sou um inútil, mas não sou um pária. Não contribuo, mas não atrapalho. Busco sempre não incomodar, e apenas espero não ser incomodado. Nessa sociedade contemporânea, sou apenas um espectador de passagem, como um curioso que espia o acidente de carro enquanto trafega do nada para lugar nenhum. Não mato e, em troca, apenas gostaria de não ser morto.

É uma vida curta, e já nos oferece tanto sofrimento. Não precisamos ficar angariando mais ainda. Quero só ser feliz. Quero só ter paz. Se isso te incomoda, sinto muito. Sou um inútil. Sou um escritor. Quero apenas sorrir hoje, amanhã e sempre. E se eu faço alguém sorrir de vez em quando, se eu faço alguém pensar de vez em quando, talvez eu não seja tão inútil assim.

3 comentários:

Vanessa Kairalla disse...

sério Pedro, você deveria publicar seus textos em alguma revista, ou jornal, tipo, algo não muito grande, uma AT revista da vida, só pra começar! E depois ir ampliando, até chegar aonde você almeja. Os primeiros degraus são os mais importantes, eles dão a base. Depois deles, tudo fica mais fácil.
E seja bem vindo à inutilidade, tenha certeza que é ela quem movimenta o mundo.

Clara disse...

Acredito que nossa vida tenha duas forças principais que a impulsiona: A da técnica de sobreviver e a da arte de viver. A primeira promove o progresso essencialmente material da humanidade, quando as pessoas firmam seus pés no chão e suam a fim de encontrarem soluções para os problemas imediatos (e que acho que você chamaria de "utilidade"). Se essa mantém o animal racional homem vivo, a segunda já nos torna humanos de fato; pois nos propicia a capacidade de sonhar, de imaginar algo que ainda não exista, de pensar sobre nós mesmos e assim nos conhecer melhor. Essa "arte de viver" é um sopro de ar fresco acima da atmosfera pesada da sobrevivência. Pode parecer uma inutilidade aos broncos, mas pobres deles... ...Ela é essencial e feliz daquele que a entende e a promove!

Lisa Chao disse...

Na boa..muito obrigada por ter postado isso.